quarta-feira, fevereiro 21

Recomeço

Porque dentro do modelo cartesiano há de haver uma brecha que caiba a gota de lágrima que escorre dentro da alma.

Há sim, de haver um ponto de luz que ofusque a sombra, a penumbra fuga do homem que teme o amor.

Há sim, de haver o martelo de concreto que quebre a máscara, que manche a farsa, que dispa a dúvida, que destrua a ilusão.

Porque dentro da exatidão do ego há de haver a resposta daquela pergunta que ele finge não existir porque a covardia domina a sua sensatez.

É o silêncio bendito, é o fruto silencioso, doce e profundo que opera na presença dos mestres cósmicos. O milagre do amor dentro da ausência do tempo, dentro da surrealidade do cosmos.

Tudo é mutante, tudo é cíclico.

Porque os sentidos não podem se deixar dominar pela imposição do mito razão, a lenda que afirma o homem como ser seco de vida, morto em poesia.

E o que é a razão?

Se não a matéria inorgânica do mundo objetivo em decomposição.

E o que é a razão?

Se não a ausência dos sentidos que fingem, não fazer parte do contexto, só pra ver até onde vai à insanidade do equilíbrio.

Porque a memória e a percepção estão ligadas pelo elo da evolução.

A janela da alma não se engana, os olhos vêem o que querem ver, não precisam de guia, de roteiro predefinido pela razão.
Decidem se choram, decidem se amam, se querem... A razão enlouquece...
Porque o esconderijo mantém em cárcere a primavera que é a vida do homem fujão, do homem escravo da razão.

A sabedoria não precisa de mestre que a ensine, mas de discípulos que a queiram compreender.

Porque ele, o homem é cartesiano, é concreto, falso em primeiro plano, é água morna esperando o sopro da virgem maculada, a prostituta deusa, do filme censurado àqueles que temem a deus.

A virgem prostituta não teme a deus, é amante de deus, é luz, é vida, é amor...

Ele, o homem é a soma da vaidade, com o pseudo-equilíbrio fabricado para enganar a si mesmo. Ele é um velho-criança... Vícios de adulto mal resolvido...

Isso é o que dá deixar a inocência de lado, deixar de acreditar em contos mágicos.
Deixar de se admirar com o ocaso...

Ele é a pseudo-vitória estilo máquina que é quase perfeita, mas falha quando menos se espera.

Isso é o que dá ouvir música desafinada, esquecendo que a natureza é que compõe a sintonia imortal, dentro do mundo astral, é ela quem dá as cartas.

Seu modelo cartesiano, sua cartilha decorada confundiu seus sentidos.
Hoje ele vê como narciso, ouve como o surdo, fala como o mudo, mas...

Continua fazendo parte da natureza, e as leis são imutáveis, ele busca o domínio da vida, vai tropeçando, gaguejando, errando dentro da ignorância que o faz partícula cósmica em evolução.
Porque ainda assim, sempre ele pode recomeçar.

PERNILONGOOOO

ZUMMMMM PRA VOCÊ TAMBÉM

Pernilongo, mosquito no sul, carapanã em Belém e muriçoca no nordeste. Já começou a imaginar aquele zummmmm no ouvido que é pior que cantiga de galo que canta na hora errada?
O nome é bem complicadinho se for dito por cientistas: culex quinquefasciatus, vivem em solos alagados, lagoas e córregos poluídos pelo homem; e depois das chuvas pode ter certeza que suas noites de sonos não serão as mesmas. O horário de pico é à noite e sabe qual o sexo das malditas? Fêmeas hematófagas, que vão em busca de alimento para maturar seus ovários e se reproduzir e como reproduzem! Quanto mais a gente mata, mais aparece. E o pior de tudo é que os inseticidas não são eficientes. Se matam, não afastam e afastando; ainda prejudicam as nossas vias respiratórias.
Existem maneiras de se tentar dormir como anjo, bem nem sei se anjo dorme, pra ser mais sincera ainda; nem sei se anjos existem, sei que existem mosquiteiros de filó, (é, aquele mesmo que você está imaginando do tempo da sua tatatatataravó: verde, rosinha, azulzinho, amarelo ou branco, isso fica ao seu gosto e toque pessoal), tem também umas velas especiais fabricadas a partir de plantas como a citronela ou a anderoba que liberam substâncias que espantam e o melhor; não fazem mal a saúde, a anderoba não tem odor e a citronela exala um perfume que lembra o eucalipto, mas deixemos de lado as explicações científicas, não sou bióloga nem pretendo.
O que aconteceu foi que como observadora que sou comecei a tecer minhas pirações. Naquela primeira noite que o acompanhei em sua casa fui convidada a ir a seu quarto. Senti que seus olhos pediam apenas minha compania sem aquele desejo explícito de homem tarado, descobri que ele é maior que o sexo. Deitamos, meu coração acelerou; como se já soubesse que depois daquela noite muitas outras viriam, e muitos outros olhares pediram não somente a minha presença como também minha alma.
Conversamos como se fôssemos amigos de infância, numa calma e serenidade que só poderia ser perturbada por um ser muito indiscreto e insistente como a muriçoca. (não ria não; que o negócio é sério). O romantismo se foi como a água de um rio que não para de correr. Aquele zum zum zum invadia nossos ouvidos como um rock reavy metal, daqueles que nem mesmo distante você se esquece, pois bem, ele levantou como se tivesse uma missão a cumprir, se armou com a munição do cessar zumbido e calou uma por uma daquelas fêmeas sedentas por atrapalhar nosso momento de paz. Achei engraçado e continuo achando porque todo dia esse mesmo ritual se repete. Uma por uma se embebeda com aquele veneno que como já disse lá em cima só mata, mas não acaba com aqueles seres chatos e irritantes.
Falar dele nesse momento é lembrar que rituais fazem parte do seu dia- a- dia. Quando acorda, quando abre o olho, quando sussurra ao meu ouvido o que só a mim pertence. Quando bebe água, quando sorri no seu universo. Ele é lindo! Capaz de transformar uma muriçoca em poesia da mais alta qualidade. Acho que ele não tem noção que eu vigio sua alma, acho que ele nem sonha que qualquer palavra dita por ele me faz parar e descer do meu mundo.
As muriçocas foram embora e sepultados nesse meu texto que é uma mistura de aula de ciências com literatura contemporânea.
Sei que depois de muitas noites acompanhando meu amado, ganhei dele um apelido carinhoso: abelhinha. Gostei porque depois de tantos outros que ele me apresentou (nem queira saber quais foram.), pelo menos não fui apelidada de muriçoca. (imagine se fosse; com aquele ritual todo com certeza eu correria o risco de cair em sua cama, mas dessa vez tombada pelo spray do extermínio).
Ah! Tem outra coisa também, fiquei pensando que com o fim das chuvas e a proliferação desses insetos temos apenas o problema da picada e do zumbido, imagine se não tivesse chovido; teríamos o calor absurdo, a falta d’água e o possível apagão, aí; Deus nos acuda, mais a ele (o meu amado) que a mim, porque no escuro é pior que no claro e elas fariam a festa comemorando e pirraçando , mas essa é uma história só lá pras bandas do sul.

Decência

A espera de um milagre...
Quanto custa sonhar?

Era uma vez democracia, cidadania, ética, decência. Era uma vez um Brasil verde e amarelo que transcendia esperança e trabalho. Hoje, vivemos a época da desconstrução. Do neologismo para dar nome a tanta maracutaia, a tanta sacanagem feita em tempo recorde.
Jaz a vergonha na cara, jaz o “medo do castigo de Deus", é bem verdade, que ateus só crêem em suas gordas contas bancárias e que Deus anda sem saber o que fazer com suas criaturas tão sacanas.
Corruptos dissimulados, impunes, máculos perante uma sociedade inerte, dopada, alienada, viciada no “toma lá, dá cá”, “uma mão lava a outra”, “conversando a gente se entende”, “jeitinho brasileiro”.
É bem verdade que esse discurso está ultrapassado, que entra pleito e sai pleito e a rotina gera demorados bocejos de uma nação, vamos dizer, um tantinho... Deixa pra lá, sem ofensas.
Será necessário enumerar culpados? Que hipocrisia, demagogia, situação ridícula, desnecessária! A lista é histórica e vive se renovando dia-a-dia...
Talvez minha acidez esteja respingando aí, perto de você, eleitor “consciente”, que vive cobrando ética, justiça, honestidade e que sonega imposto quando acha necessário, e que explora seus empregados no dia de sábado sem hora extra; é, talvez eu esteja sendo satírica demais, cáustica demais, me desculpem, é que também tenho o direito de cuspir verdades mofadas por tanto tempo guardadas na memória de pseudocidadãos sem memória. Talvez, não esteja num dia bom, talvez por eu ter levado uma rasteira daquele que disse praticar a ética, mas que na hora do pra valer, decide praticar a cartilha da sobrevivência acima de valores, a lei da selva de pedra, da política neoliberal acima da moral.
Jaz a idéia de progresso, é o retrocesso que mantém a linha da involução... Estamos chegando lá, em lugar nenhum, andando em círculos, revendo histórias cômicas se não trágicas de homens públicos, homens comuns defendendo seus próprios umbigos, interesses em nome do bem estar individual, enquanto que a responsabilidade social, enquanto que o desenvolvimento integrado sustentável fica sem sustentação, veiculado em publicidade paga com o dinheiro frouxo seu, meu, nosso... A espera de um milagre.
Ah, se não fossem os milagres, as mudanças inesperadas, as descobertas de diamantes no meio da lama...
Que o sol aqueça a alma dos que ainda desejam ultrapassar o limite da metafísica e romper com os paradigmas impostos pelos sistemas usurpadores da liberdade natural defendida por Rousseau...
Essa tal liberdade que ganhou grilhões da politicagem consolidada no país da impunidade. É bem verdade que não se viu tanta gente ir presa como agora, devemos nos orgulhar ou meter nossa cara no buraco mais profundo da terra seca do nosso sertão?
É bem verdade que a prática desregrada de ações de quadrilhas organizadas tem tido suas quedas, mas nada que nos faça comemorar os bilhões de reais que andam passeando em paraísos fiscais, em bancos suíços, americanos, argentinos, brasileiros, qualquer banco serve até loteria de bairro!
Era uma vez a sobriedade...
Embriaguem-se com a justiça fabricada pela injustiça política-humana. E se puderem semeiem esperança e assistam a espera de milagre!
Que um dia a gente chegue lá, saia do círculo, saia da rotina imunda e rompa com os grilhões da corrupção! Não custa nada sonhar, eu acho!!! É bem capaz que alguém invente uma taxa, um imposto sobre sonho. Será?

Tatiane Marta

Sertanejo

Sertanejo: herói brasileiro

E é preciso fazer diferente, mas como? A coisa já havia se tornado crônica há anos, mas quando se vê o problema destruindo veias, retardando princípios éticos, morais, humanitários; dói mais. De que estou falando? Pois bem. Vamos aos fatos. A história que será relatada é conseqüência histórica de uma colônia invadida por exploradores, sanguessugas civilizados, povoada por degredados, roubada desde os primórdios, saqueada por povos de todas as raças.
Vivemos o ápice da condensação de homens públicos que vendem suas almas a qualquer um que pague com o dinheiro fruto do trabalho de cidadãos inconscientes, permanentes na ignorância que mantém o ciclo vicioso do voto comercializado, em nome da perpétua vida de miserável.
A notícia não é nova, mas pela primeira vez na história podemos sentir que a situação possui ramificações em 77% das prefeituras brasileiras. Essas ramificações traduzem corrupção de todos os tipos, da mais simples, primária aos olhos dos profissionais do planalto, aos grandes rombos que até Deus se benze!
Relatórios realizados pela Controladoria Geral da União, de junho apontam que o câncer se proliferou. Nossa pátria amada é composta por 5560 municípios, a fiscalização foi feita por amostragem, pouco mais de 10%, foram fiscalizadas apenas 780 prefeituras, dessas apenas 602 apresentaram graves irregularidades, e em pelo menos quatro municípios na Bahia (Porto Seguro, Taperoá, Cansanção e Mucuri), a CGU teve de recorrer à Polícia Federal para ter acesso aos documentos das prefeituras e garantir a segurança de seus servidores.
Onde nossos homens públicos, astutos, vis, hipócritas, bandidos, pobres almas bandidas pecam? Em licitações manipuladas, falsificação de notas fiscais, prefeitos contratam empresas de parentes para execução de serviços para o município. Quer um exemplo no nordeste? Na Bahia foram 59 prefeituras investigadas, dessas 56 apresentaram irregularidades, ou seja, 95% das prefeituras baianas investiram alto em prol de seus chefes, em nome de sua sobrevivência pacata e tranqüila, mas a coisa não está tão escancarada só na Bahia não, tem lugar muito mais descarado. De acordo com os dados oficiais, há oito Estados em que 100% das prefeituras fiscalizadas apresentaram graves problemas - Alagoas, Amazonas, Amapá, Ceará, Piauí, Sergipe, Rondônia e Roraima. Lá, eles, os donos da casa cometem os crimes a olhos vistos, o povo já nem se perplexa mais, permanecem anestesiados pela fome e carência coletiva.
Em São Paulo, o índice de irregularidade chegou a 58,2%. Só é maior do que no Acre e no Rio Grande do Sul.
Mas aí me vem uma pergunta também primária e a Lei de Responsabilidade Fiscal? - LRF (Lei Complementar n. 101, de 04 de maio de 2000) não é ela que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, mediante ações em que se previnam riscos e corrijam os desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, destacando-se o planejamento, o controle, a transparência e a responsabilização, como premissas básicas. Definição bonita, não é meu caro leitor? Pois bem, essa tal lei veio para por freios nesse trem desgovernado, veio para minimizar o rombo que já havia se tornado incontrolável, mas como vocês podem confirmar, não anda dando jeito. Isso é prova de que falta muito ainda, talvez falte tudo, recomeçar, reconstruir, reescrever, replanejar, recuperar, mas deixemos de lado o reeleger... Repensemos o mal pela raiz, recuperemos nossa alto estima, nossa consciência crítica, reeduquemos nossos vícios, refaçamos nossos ideais...
Oh! Povo brasileiro pacífico, que dispa seus medos, que recupere sua liberdade, que rompa com ideologias, com paradigmas que só arrastam-nos para o breu.
O espetáculo eleitoral está em fase de montagem, daqui a alguns meses mais uma vez teremos o poder de reescrever nossa história, tão simples como abrir os olhos e agradecer ao Deus Supremo o dom da vida, tão simples quanto sentir o cheiro macio das rosas recebidas pelo amado. É você alma em evolução, é você povo sertanejo, verdadeiro herói da nação que deve reverter esse caos.
O cenário já está sendo montado, os atores são os mesmos lobos, sanguessugas históricos, raposas anciãs, cobertas de sede pelo que é alheio, pelo que não lhe pertence, o roteiro também é o mesmo, porta-a-porta, acordos entre prefeitos, reuniões a base de cochichos ao pé do ouvido, as promessas que os santos nunca cumprirão, que os demônios também...
A maquiagem pode até oscilar de tom, mas todos continuam sendo caras-de-pau, ridículos, imundos, infames, dramaturgos da corrupção!
O ingresso sofreu queda no mercado, sabe como é que é... muitas denúncias, a coisa também ganhou outro rumo... Seu voto vai sair mais barato, mas não tenha dúvida continuará valendo muito!
Os personagens nos mesmos atos, a peça que pode acabar em pizza, todos são apaixonados por pizza!
E quanto a nós, e agora me incluo como cidadã...
Que o sonho ganhe asa, fortaleça-se no sorriso do filho caçula, da grávida mais linda do mundo, da vovó que comemorou 80 anos de vida, da amiga que decidiu ser mãe solteira, que o sonho ultrapasse a velocidade da dor, da fome, da desesperança, da falta de luz, da doença, do frio...
Meu sertanejo, meu herói brasileiro, faça uma força, seque o suor da tez e volte a sonhar...
E é preciso fazer diferente, mas como?
Você sabe meu caro leitor...
É claro que você sabe...

Quanto vale o seu voto?

Quanto vale seu voto?

Não gosto de escrever em 1a. pessoa, mesmo sabendo que a imparcialidade por mais que faça parte da cartilha do jornalista ‘foca’ é algo que não tem importância ao longo da nossa jornada. Princípios éticos, profissionais que aos poucos perdem sua força, mas aqui não me posiciono como jornalista, mas e principalmente como cidadã.
É repugnante ter que optar por lados, a política é algo que fere a sensatez e a plenitude do ser. Uma guerra entre fortes e fracos impera em verbo intransitivo. Ganha quem tem mais dinheiro e menos caráter.
Há meses tenho acompanhado a política que é feita em nossa cidade. Uma Petrolina que vi crescer, tornar-se bela. Sempre quando voltava de Campina Grande onde cursava comunicação, me vislumbrava com a magnitude que vinha se tornando minha terra. Orgulho em ser petrolinense...
Quanto vale o seu voto? Comprovei e poderia até ter elaborado uma pesquisa cientifica, o outro lado da política. Todo ‘foca’ é revoltado e crítico feroz da politicagem que é cometida no mundo e nosso país bate recordes de corrupção. Sempre fui contra essa política que dá um saco de feijão em troca dos votos inconscientes de famílias que achava serem famintas. Vítimas do descaso social. Que pena, eu me iludia com o sonho do socialismo, da igualdade, dos direitos e deveres cumpridos. A corrupção está intrínseca a cultura do povo brasileiro.
Quem é mais corrupto quem pede ou quem dá? Confesso. Não sei.
Acompanhei cenas absurdas, visitei bairros nobres, favelas, bares, feiras. O meu voto por uma “caixa de cerveja”, “pague minha conta de água”, “tire minha habilitação”, “você tem o quê pra me oferecer”. Deprimida fiquei muitas vezes, indignada, decepcionada...
Sei que a fome é exclusão, sei que apenas 20% do desperdício de alimentos do país; seria suficiente para alimentar 32 milhões de brasileiros que estão a margem, a espera de políticas que dignifiquem sua existência. A fome é política, é uma forma de cerceamento moderno, um exílio sem fundamentos...
70 milhões de toneladas de grãos, 8,5 milhões de hectares de terra. Não podemos dizer que somos um país pobre, temos recursos inestimáveis. E então, o que nos falta?
Se há uma unanimidade nas sociedades democráticas modernas; ela se concentra no universal desprestígio do político. Suspeitos, oportunistas... Sarcasmos nos olhos de gente humilde, e também viciada em pedir um “favorzinho”. O eleitor é uma andorinha que se recusa a fazer sua parte, quer ir para outros ares e lavar as mãos em outras águas.
Há meses acompanhando a política em Petrolina, pude tirar mais uma máscara e vi uma outra realidade. Nem todos são vítimas, nem todos são culpados.
Há políticos hilários, dignos de pena. Há políticas infames, desprezíveis, verdadeiros mestres da retórica. Há os que choram e fazem rir. Há os que não olham no olho; por entender que estão sujos demais. Há os que aparecem de quatro em quatro anos trazendo carcaças de frango, há os que oferecem sopa e um pedaço de pão. Há os que trocam de partidos, um verdadeiro ping pong de infidelidades. Há os que compram seu voto por dez reais, por dez sacos de feijão.
Há os que voltam a prometer e a ler as mesmas propostas de outrora, subestimando ao povo, políticos amnésicos, criaturas vãs.
Encontrei de tudo um pouco. Eleitores corruptos tanto quanto alguns políticos. Eleitores viciados, miseráveis acomodados.
Há eleitores que esperam a hora do ‘cochicho ao pé do ouvido’, a hora do pedido tão desejado. Há os que começam contando a vida sofrida, a mãe doente, a filha grávida e por fim, chegam ao objetivo. “voto em você se você me der isso”. Quantos não vi fazendo isso...
Há os que são diretos, vão logo soltando o verbo, há os usam o nome de Deus, se Deus quiser, mas preciso de um incentivo...
Mas há também os eleitores apaixonados, os que ainda alimentam a esperança. Os que votam por amor a política, pela consciência política. Há os que admiram e vibram e abrem suas portas e servem água, café, cachaça, bode assado. Há os que abraçam tão forte que torcem o esqueleto do político, há os que apertam as mãos com os calos duros, enraizados na pele pelo trabalho árduo do sertão. Áridos corações que torcem pelo fim da indústria da fome, pelo fim da indústria da seca. Homens valentes, com pouco estudo, mas tão dignos. Mulheres com seus muitos filhos, catarrentos, com buchos crescidos que pedem somente que eles voltem e cumpram o que prometeram.
Algumas vezes senti a presença de Deus em casas de barro, onde famílias se escondem do sol, se protegem da chuva, mas sorriem felizes como se morassem em verdadeiros castelos.
Confesso que hoje sou meio ‘foca’ e meio profissional. Meu coração ainda ferve de indignação quando ouço de lábios vis a repetição do mesmo discurso demagogo de homens que apostam na regressão da humanidade, mas por outro lado meu coração salta de entusiasmo quando encontro pessoas humildes tão puras e honestas, tão humanas e cheias de esperança.
Confesso que mudei minha visão jornalista, agora deixo de ser pura e simplesmente cidadã e passo a ser observadora crítica jornalista. Deixei a revolta de lado, pude entender os dois lados. Amadureci a política que existia dentro de mim.
Meu voto não tem preço. E o seu?

Romance

Cega guerra, amor...

Nazi-fascistas, reacionários que estrangularam sonhos de europeus e americanos. A história da Segunda Grande Guerra, para muitos causa apenas aflição na hora de prestar vestibular. Questões de múltiplas escolhas ou subjetivas fazem com que tenham uma vaga sensação de aflição correndo dentro do relógio; estudantes que só vêem o tempo voar, mas longe, muito longe estão do sentimento de medo e pavor que acompanharam por anos; homens que ainda recordam e, como se o tempo não tivesse passado, as lembranças vivas gritam dentro dos seus subconscientes, resultando em noites mal dormidas, além de tristes olhares perdidos dentro do horizonte vazio e sem esperança. Para eles, o homem é o exemplo mais sórdido da superação do poder de autodestruição.
Grandes diversidades doutrinárias e organizacionais foram características que marcaram os tempos de chumbo. Seqüelas de uma Primeira Guerra que distribuiu descontentamento em vidas no mundo inteiro, resquícios de atitudes infames, negligentes e déspotas, mas facilmente explicada quando analisada de maneira sociológica.
Mussolini na Itália ou Hitler na Alemanha duelavam separadamente rumo ao caos, guiados pela gana e imperados pelo prazer de soberania. Regimes políticos totalitários que controlavam todos os aspectos da vida humana, submetendo-os ao Estado. A supremacia da ignorância reinava. Muitos que viveram aquela época quando recordam ainda sentem a ânsia respingar lágrimas. Eram tempos difíceis.
Raça pura, eugenia, superioridade racial dos povos germânicos; resultado da insanidade de Hitler que promoveu uma das maiores perseguições aos judeus da história da humanidade. Racismo, discriminações políticas e ideológicas são o retrato de milhões de homens, mulheres e crianças pertencentes a grupos ciganos, eslavos, comunistas e, sobretudo, judeus, assassinados pela diferença, pelo desrespeito a diferença. Por trás dessa sórdida página da história, temos algumas belas histórias num paradoxo permitido pela força do universo.
Seu nome era Joana, nascera no ano de 1926, Sua mãe morrera logo depois do seu parto e seu pai sem condições de criá-la achou que seria melhor deixá-la ser criada por seu padrinho, um conhecido coronel do sertão nordestino no interior do interior, num país que não se envolveu diretamente com a guerra, mas que respirou instabilidade e insegurança. Num país que fez sua própria guerra, num sistema também negro. O poder faz o mesmo efeito... O que muda? O modo de morrer.
Nascera no século das mudanças, por ela passaram invenções, conquistas, catástrofes e, sobretudo, guerras. No baú trás lembranças doces e amargas. Vivas lembranças que faz questão em detalhar. A guerra não foge do seu álbum de fotografias branco e preto, não se formara por causa da guerra. Pensava calada e, de vez em quando, ficava ofegante fitando o tempo.
O medo fazia parte do dia e da noite de famílias que preferiam trancar-se ao ouvir aviões sobrevoarem suas casas.
Ela se destacava por não se embrenhar no mato a captura de aventuras pequenas, sonhava grande, sua busca era maior que a efêmera sensação de conquista. A imaginação guiava seus passos, fora a primeira a ler Gonçalves Dias por aquelas bandas, falava com orgulhos dos livros que colecionou ao longo de sua jornada, queria ser escritora. Possuía valores congelados, o pudor aprendera a ter desde criança. Os namoros arranjados e os sabotados pelo pai e irmão de criação, que mais tarde se tornaria seu verdadeiro amor. Viajara por mundos diversos, dentro da imaginação do impossível que possibilitou sua evolução. Delicada, fina, traçou seu destino por acreditar que não há limitação para os sonhos. A guerra não tirou dela a candura de menina nem a esperança, pelo contrário; a fez perceber que é possível aprender com os erros e a ter paciência com a ignorância humana, sem ter que ir de encontro ou ter que se igualar. Sorria na vivacidade de um anjo, sozinha percebeu que os valores mais sólidos da vida são aqueles que afirmam a existência de uma força superior capaz de transformar tristeza em alegria, transformando o que sangra no que gera esperança, a vida embalada com o amor.
Um coração passivo batia no compasso da saudade que rega seu perfeito jardim, sua fortaleza íntima, lá estão os contos, as poesias que não escreveu, mas que vivem e vez e outra saltam da sua memória fazendo netos, filhos e amigos se deliciarem com as histórias antigas. Lá estão os amigos que se foram; a família querida, o amor que também se foi. Lá estão às incertezas e as certezas, os sorrisos e as despedidas.
Quase oito décadas...
Quantos invernos, quantas primaveras! Cativando e fascinando pela paixão que ainda traz nos olhos. Histórias confirmadas pelas lágrimas imaginárias que caem silenciosas sobre sua face, histórias que estão tatuadas nas rugas das mãos que cruzam universos e desembocam no rio da saudade. Seu nome é Joana passou por tantas mudanças, muitas guerras, e hoje é paz...

Pois bem, faz tempo que venho evitando, me esquivando, buscando jeito de adiar essa coisa de escrever, aqui a gente se despe de tal maneira que as veias pulsantes se abrem, se despem, se vêem livres como se a liberdade existisse. O duro é saber que tudo é fruto de devaneios que nos permitimos fazer para fugir do tédio que insiste em ser.
Na Veja de algumas semanas atrás li uma entrevista de Delfim neto onde de uma maneira prática, objetiva e sonora ele disparava: “é preciso sufocar a liberdade para combater a desigualdade”, e dizia mais “o velho Karl constatou que mesmo antes do surgimento do mercado que a liberdade e a igualdade são incompatíveis. Que o homem livre naturalmente produz a desigualdade.” Essas declarações me martelaram de lado-a-lado, sou aquela jornalista que ainda faz questionamentos metafísicos e que vai descamando dogmas em nome de princípios cósmicos. Sou aquela jornalista pouco comum que ainda vê saída, alternativa, oportunidade em fazer diferente, em se pôr diferente. Quando a gente analisa a situação política, econômica e principalmente social do nosso país, é que a gente consegue enxergar essa verdade quase absoluta dita por Karl Marx há século e por Delfim Neto há algumas semanas atrás. Será que o tempo passou? ou ainda estamos perdidos num túnel do tempo, obsoleto, arcaico, medieval?
E eu tenho que permanecer primeira pessoa. Tenho que vibrar, que desafinar, que esbravejar quando sentir vontade, quando achar que já deu, que a gota virou um oceano de hipocrisia; de jeitinho politiqueiro, quando eu achar que as gangues estão explícitas demais, que as quadrilhas já não se enxergam como vilãs, mas como mocinhos. A justiça nunca foi igual para todos, é cega sim, fecha os olhos da ética, da moralidade para beneficiar seus próprios interesses. O pior de tudo isso, é saber que estou apenas repetindo um velho discurso, que estou levantando uma bandeira rasgada, suja, esquecida. Nosso povo pacífico; dócil está anestesiado, está globalizado a ponto de achar que tudo pode ser, que tudo é possível, que não é com ele, nem com a família dele. E daí ? Que se dane, faço o melhor para defender o meu umbigo, o meu “de come” como se a comida que alimenta fosse apenas o arroz e feijão a preço de ouro, como se a reflexão tivesse sido banida, exilada, escondida em nome da comodidade. Quem não gosta de comodidade? Quem não prefere está à sombra que ao sol, gritando, reivindicando, socializando-se, buscando soluções. Em algumas conversas tidas com pessoas comuns, trabalhadores rurais, professoras de interior tenho ficado ainda mais pasma, embasbacada, a coisa está gigantesca, o ócio reflexivo dominou geral. Vazio como a música que não diz nada, que balança o esqueleto com frases secas de poesia e de emoção. Assim está a mente do povo brasileiro que se vê a margem, sempre a espera, sempre na fila de espera, que sempre assiste a reprise da vida real, em diversas fases da vida, pra nascer, pra sobreviver, pra morrer. O que muda? a idade, apenas a idade. E o que fazem? corrompem-se quando vêem oportunidade, se calam por medo, fraqueza, opção. Meu verbo ácido impera e dispara: AGIR. Ninguém age, ninguém reage. ninguém...
A verdade não é absoluta, para ser sincera a verdade realmente não existe, mas a mudança sim, é absoluta, somos mutantes, inconstantes, aprendizes.
O que me revolta é a ignorância por opção. Essa, de mim, tem o desprezo, à ojeriza, o vômito azedo de revolta. A solução para a vida, é pensar e realizar. realizemos, povo...
Pensemos...
O fazer ficou aos racionais, o obedecer, aos irracionais. Animais? Somos tantas vezes animais, grosseiros, estúpidos, corruptos...Somos tantas vezes jegues, jumentos, açoitamos a nossa racionalidade por interesses egocêntricos, defendemos a ilusão, a farsa, à vontade... É essa vontade, essa coisa de possuir, de desejar e fazer tudo pra obter aquilo que deseja, completamente tudo que nos faz sujos, profanos, evoluintes... Falta tanto... Falta muito, mas o que me anima é que podemos sim, metamorfosearmos, podemos sim, atingir o topo. QUERER... essa palavrinha, é bem vinda, e essa PODER, está tatuada na nossa memória acásica, podemos tudo e a explicação é alva: somos uno!
Mas há ainda aqueles que desejam ser fragmentos, vírgulas, átomos divididos; para elas ofereço veneno: aceita, veneno? Uma suave e mortal dose de veneno, em nome da evolução!

Tatiane Marta
09/02/2007

Os intelectuais que dão coice

Gritos, debates, silêncios. O universo dos docentes acadêmicos é um palco, onde atores interpretam milhares de papéis, de filósofos a bobos da corte. A euforia é normal, a humanidade precisa vibrar e é natural que o conhecimento desperte essa euforia. O que está em evidência é a vaidade acadêmica.
Intelectuais que se mascaram de uma pseudo-sapiência, dentro do ceticismo e atitudes entusiásticas, eles galgam rumo à ignorância. Paradoxo perfeito! Visto que quanto mais dizem que são, mais deixam de ser, o que na verdade, nunca foram. Falam em nome da verdade que fabricaram para manterem-se no topo, em alta. Desprezam opiniões de alunos, por se acharem superiores, por serem mestres, doutores, por conhecerem mais autores... pobres homens...
Afastam-se cada vez mais da espiritualidade, segregando ideologias que só servem para limitar a evolução humana. Qualidade intelectual questionável, visão erudita ultrapassada por valores irreais. Não sabem que está além e eles se recusam a ler suas próprias almas. Dão coices como jumentos raivosos, são prisioneiros de si mesmos.
A sociedade tem culpa, mas não inteira. Quem permite criar tantas desigualdades extrapolando o próprio caráter de finitude que temos­­! Quem fabrica verdades, que enxerga tudo menos a si mesmo!
Quem é que despreza os sentimentos em nome da vaidade!
A visão elitista sugere superioridade, segrega etnias no campo intelectual. Agem como bárbaros eloqüentes e sofistas, defendem seus interesses em nome do narcisismo implícito nos seus egos literários. Seria tão diferente se lessem menos e praticassem mais o que dizem ser detentores. Pensam sempre acima, e esquecem que a reflexão destrói verdades que nunca existiram.
Silenciam por se acharem sábios demais, esbravejam impondo seus dogmas que afirmam serem a condensação do ceticismo científico e se perdem diante de perguntas tão comuns. Não sabem nem quem são.
Confundem religião com espiritualidade, preferem não opinar, preferem ser Deus. Platão identificava na alma humana três virtudes: o instinto, a coragem e a razão, no instinto manifestam-se os desejos ligados à sobrevivência e a reprodução, pela coragem o homem expressa desejos superiores e pela razão governa sua vontade e seus instintos, o intelectual que sofre da moléstia da vaidade atropela as virtudes e se delicia com os prazeres da pseudo-sabedoria.
René Descartes, em sua obra "O Tratado das Paixões" deduz que é no livre-arbítrio que o homem poderá buscar a educação do intelecto, capaz de livrá-lo do vício. Afirma que o erro moral é precedido pela falta de sabedoria. Para ele a utilidade da moral consiste em governar o desejo sobre o nosso modo de agir. E quanto mais se lê filosofia, sociologia, ética profissional, mas se vê a ignorância ganhar forma na luta armada de argumentos rochosos e secos. O homem mantém a ilusão de ser sabedoria sem nem ao menos reconhecer que tudo que ele vê, cria, define é ilusão.

Tatiane Marta.