quarta-feira, fevereiro 21

Os intelectuais que dão coice

Gritos, debates, silêncios. O universo dos docentes acadêmicos é um palco, onde atores interpretam milhares de papéis, de filósofos a bobos da corte. A euforia é normal, a humanidade precisa vibrar e é natural que o conhecimento desperte essa euforia. O que está em evidência é a vaidade acadêmica.
Intelectuais que se mascaram de uma pseudo-sapiência, dentro do ceticismo e atitudes entusiásticas, eles galgam rumo à ignorância. Paradoxo perfeito! Visto que quanto mais dizem que são, mais deixam de ser, o que na verdade, nunca foram. Falam em nome da verdade que fabricaram para manterem-se no topo, em alta. Desprezam opiniões de alunos, por se acharem superiores, por serem mestres, doutores, por conhecerem mais autores... pobres homens...
Afastam-se cada vez mais da espiritualidade, segregando ideologias que só servem para limitar a evolução humana. Qualidade intelectual questionável, visão erudita ultrapassada por valores irreais. Não sabem que está além e eles se recusam a ler suas próprias almas. Dão coices como jumentos raivosos, são prisioneiros de si mesmos.
A sociedade tem culpa, mas não inteira. Quem permite criar tantas desigualdades extrapolando o próprio caráter de finitude que temos­­! Quem fabrica verdades, que enxerga tudo menos a si mesmo!
Quem é que despreza os sentimentos em nome da vaidade!
A visão elitista sugere superioridade, segrega etnias no campo intelectual. Agem como bárbaros eloqüentes e sofistas, defendem seus interesses em nome do narcisismo implícito nos seus egos literários. Seria tão diferente se lessem menos e praticassem mais o que dizem ser detentores. Pensam sempre acima, e esquecem que a reflexão destrói verdades que nunca existiram.
Silenciam por se acharem sábios demais, esbravejam impondo seus dogmas que afirmam serem a condensação do ceticismo científico e se perdem diante de perguntas tão comuns. Não sabem nem quem são.
Confundem religião com espiritualidade, preferem não opinar, preferem ser Deus. Platão identificava na alma humana três virtudes: o instinto, a coragem e a razão, no instinto manifestam-se os desejos ligados à sobrevivência e a reprodução, pela coragem o homem expressa desejos superiores e pela razão governa sua vontade e seus instintos, o intelectual que sofre da moléstia da vaidade atropela as virtudes e se delicia com os prazeres da pseudo-sabedoria.
René Descartes, em sua obra "O Tratado das Paixões" deduz que é no livre-arbítrio que o homem poderá buscar a educação do intelecto, capaz de livrá-lo do vício. Afirma que o erro moral é precedido pela falta de sabedoria. Para ele a utilidade da moral consiste em governar o desejo sobre o nosso modo de agir. E quanto mais se lê filosofia, sociologia, ética profissional, mas se vê a ignorância ganhar forma na luta armada de argumentos rochosos e secos. O homem mantém a ilusão de ser sabedoria sem nem ao menos reconhecer que tudo que ele vê, cria, define é ilusão.

Tatiane Marta.

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