quarta-feira, fevereiro 21

Romance

Cega guerra, amor...

Nazi-fascistas, reacionários que estrangularam sonhos de europeus e americanos. A história da Segunda Grande Guerra, para muitos causa apenas aflição na hora de prestar vestibular. Questões de múltiplas escolhas ou subjetivas fazem com que tenham uma vaga sensação de aflição correndo dentro do relógio; estudantes que só vêem o tempo voar, mas longe, muito longe estão do sentimento de medo e pavor que acompanharam por anos; homens que ainda recordam e, como se o tempo não tivesse passado, as lembranças vivas gritam dentro dos seus subconscientes, resultando em noites mal dormidas, além de tristes olhares perdidos dentro do horizonte vazio e sem esperança. Para eles, o homem é o exemplo mais sórdido da superação do poder de autodestruição.
Grandes diversidades doutrinárias e organizacionais foram características que marcaram os tempos de chumbo. Seqüelas de uma Primeira Guerra que distribuiu descontentamento em vidas no mundo inteiro, resquícios de atitudes infames, negligentes e déspotas, mas facilmente explicada quando analisada de maneira sociológica.
Mussolini na Itália ou Hitler na Alemanha duelavam separadamente rumo ao caos, guiados pela gana e imperados pelo prazer de soberania. Regimes políticos totalitários que controlavam todos os aspectos da vida humana, submetendo-os ao Estado. A supremacia da ignorância reinava. Muitos que viveram aquela época quando recordam ainda sentem a ânsia respingar lágrimas. Eram tempos difíceis.
Raça pura, eugenia, superioridade racial dos povos germânicos; resultado da insanidade de Hitler que promoveu uma das maiores perseguições aos judeus da história da humanidade. Racismo, discriminações políticas e ideológicas são o retrato de milhões de homens, mulheres e crianças pertencentes a grupos ciganos, eslavos, comunistas e, sobretudo, judeus, assassinados pela diferença, pelo desrespeito a diferença. Por trás dessa sórdida página da história, temos algumas belas histórias num paradoxo permitido pela força do universo.
Seu nome era Joana, nascera no ano de 1926, Sua mãe morrera logo depois do seu parto e seu pai sem condições de criá-la achou que seria melhor deixá-la ser criada por seu padrinho, um conhecido coronel do sertão nordestino no interior do interior, num país que não se envolveu diretamente com a guerra, mas que respirou instabilidade e insegurança. Num país que fez sua própria guerra, num sistema também negro. O poder faz o mesmo efeito... O que muda? O modo de morrer.
Nascera no século das mudanças, por ela passaram invenções, conquistas, catástrofes e, sobretudo, guerras. No baú trás lembranças doces e amargas. Vivas lembranças que faz questão em detalhar. A guerra não foge do seu álbum de fotografias branco e preto, não se formara por causa da guerra. Pensava calada e, de vez em quando, ficava ofegante fitando o tempo.
O medo fazia parte do dia e da noite de famílias que preferiam trancar-se ao ouvir aviões sobrevoarem suas casas.
Ela se destacava por não se embrenhar no mato a captura de aventuras pequenas, sonhava grande, sua busca era maior que a efêmera sensação de conquista. A imaginação guiava seus passos, fora a primeira a ler Gonçalves Dias por aquelas bandas, falava com orgulhos dos livros que colecionou ao longo de sua jornada, queria ser escritora. Possuía valores congelados, o pudor aprendera a ter desde criança. Os namoros arranjados e os sabotados pelo pai e irmão de criação, que mais tarde se tornaria seu verdadeiro amor. Viajara por mundos diversos, dentro da imaginação do impossível que possibilitou sua evolução. Delicada, fina, traçou seu destino por acreditar que não há limitação para os sonhos. A guerra não tirou dela a candura de menina nem a esperança, pelo contrário; a fez perceber que é possível aprender com os erros e a ter paciência com a ignorância humana, sem ter que ir de encontro ou ter que se igualar. Sorria na vivacidade de um anjo, sozinha percebeu que os valores mais sólidos da vida são aqueles que afirmam a existência de uma força superior capaz de transformar tristeza em alegria, transformando o que sangra no que gera esperança, a vida embalada com o amor.
Um coração passivo batia no compasso da saudade que rega seu perfeito jardim, sua fortaleza íntima, lá estão os contos, as poesias que não escreveu, mas que vivem e vez e outra saltam da sua memória fazendo netos, filhos e amigos se deliciarem com as histórias antigas. Lá estão os amigos que se foram; a família querida, o amor que também se foi. Lá estão às incertezas e as certezas, os sorrisos e as despedidas.
Quase oito décadas...
Quantos invernos, quantas primaveras! Cativando e fascinando pela paixão que ainda traz nos olhos. Histórias confirmadas pelas lágrimas imaginárias que caem silenciosas sobre sua face, histórias que estão tatuadas nas rugas das mãos que cruzam universos e desembocam no rio da saudade. Seu nome é Joana passou por tantas mudanças, muitas guerras, e hoje é paz...

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