quarta-feira, fevereiro 21

Recomeço

Porque dentro do modelo cartesiano há de haver uma brecha que caiba a gota de lágrima que escorre dentro da alma.

Há sim, de haver um ponto de luz que ofusque a sombra, a penumbra fuga do homem que teme o amor.

Há sim, de haver o martelo de concreto que quebre a máscara, que manche a farsa, que dispa a dúvida, que destrua a ilusão.

Porque dentro da exatidão do ego há de haver a resposta daquela pergunta que ele finge não existir porque a covardia domina a sua sensatez.

É o silêncio bendito, é o fruto silencioso, doce e profundo que opera na presença dos mestres cósmicos. O milagre do amor dentro da ausência do tempo, dentro da surrealidade do cosmos.

Tudo é mutante, tudo é cíclico.

Porque os sentidos não podem se deixar dominar pela imposição do mito razão, a lenda que afirma o homem como ser seco de vida, morto em poesia.

E o que é a razão?

Se não a matéria inorgânica do mundo objetivo em decomposição.

E o que é a razão?

Se não a ausência dos sentidos que fingem, não fazer parte do contexto, só pra ver até onde vai à insanidade do equilíbrio.

Porque a memória e a percepção estão ligadas pelo elo da evolução.

A janela da alma não se engana, os olhos vêem o que querem ver, não precisam de guia, de roteiro predefinido pela razão.
Decidem se choram, decidem se amam, se querem... A razão enlouquece...
Porque o esconderijo mantém em cárcere a primavera que é a vida do homem fujão, do homem escravo da razão.

A sabedoria não precisa de mestre que a ensine, mas de discípulos que a queiram compreender.

Porque ele, o homem é cartesiano, é concreto, falso em primeiro plano, é água morna esperando o sopro da virgem maculada, a prostituta deusa, do filme censurado àqueles que temem a deus.

A virgem prostituta não teme a deus, é amante de deus, é luz, é vida, é amor...

Ele, o homem é a soma da vaidade, com o pseudo-equilíbrio fabricado para enganar a si mesmo. Ele é um velho-criança... Vícios de adulto mal resolvido...

Isso é o que dá deixar a inocência de lado, deixar de acreditar em contos mágicos.
Deixar de se admirar com o ocaso...

Ele é a pseudo-vitória estilo máquina que é quase perfeita, mas falha quando menos se espera.

Isso é o que dá ouvir música desafinada, esquecendo que a natureza é que compõe a sintonia imortal, dentro do mundo astral, é ela quem dá as cartas.

Seu modelo cartesiano, sua cartilha decorada confundiu seus sentidos.
Hoje ele vê como narciso, ouve como o surdo, fala como o mudo, mas...

Continua fazendo parte da natureza, e as leis são imutáveis, ele busca o domínio da vida, vai tropeçando, gaguejando, errando dentro da ignorância que o faz partícula cósmica em evolução.
Porque ainda assim, sempre ele pode recomeçar.

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