quarta-feira, fevereiro 21

Quanto vale o seu voto?

Quanto vale seu voto?

Não gosto de escrever em 1a. pessoa, mesmo sabendo que a imparcialidade por mais que faça parte da cartilha do jornalista ‘foca’ é algo que não tem importância ao longo da nossa jornada. Princípios éticos, profissionais que aos poucos perdem sua força, mas aqui não me posiciono como jornalista, mas e principalmente como cidadã.
É repugnante ter que optar por lados, a política é algo que fere a sensatez e a plenitude do ser. Uma guerra entre fortes e fracos impera em verbo intransitivo. Ganha quem tem mais dinheiro e menos caráter.
Há meses tenho acompanhado a política que é feita em nossa cidade. Uma Petrolina que vi crescer, tornar-se bela. Sempre quando voltava de Campina Grande onde cursava comunicação, me vislumbrava com a magnitude que vinha se tornando minha terra. Orgulho em ser petrolinense...
Quanto vale o seu voto? Comprovei e poderia até ter elaborado uma pesquisa cientifica, o outro lado da política. Todo ‘foca’ é revoltado e crítico feroz da politicagem que é cometida no mundo e nosso país bate recordes de corrupção. Sempre fui contra essa política que dá um saco de feijão em troca dos votos inconscientes de famílias que achava serem famintas. Vítimas do descaso social. Que pena, eu me iludia com o sonho do socialismo, da igualdade, dos direitos e deveres cumpridos. A corrupção está intrínseca a cultura do povo brasileiro.
Quem é mais corrupto quem pede ou quem dá? Confesso. Não sei.
Acompanhei cenas absurdas, visitei bairros nobres, favelas, bares, feiras. O meu voto por uma “caixa de cerveja”, “pague minha conta de água”, “tire minha habilitação”, “você tem o quê pra me oferecer”. Deprimida fiquei muitas vezes, indignada, decepcionada...
Sei que a fome é exclusão, sei que apenas 20% do desperdício de alimentos do país; seria suficiente para alimentar 32 milhões de brasileiros que estão a margem, a espera de políticas que dignifiquem sua existência. A fome é política, é uma forma de cerceamento moderno, um exílio sem fundamentos...
70 milhões de toneladas de grãos, 8,5 milhões de hectares de terra. Não podemos dizer que somos um país pobre, temos recursos inestimáveis. E então, o que nos falta?
Se há uma unanimidade nas sociedades democráticas modernas; ela se concentra no universal desprestígio do político. Suspeitos, oportunistas... Sarcasmos nos olhos de gente humilde, e também viciada em pedir um “favorzinho”. O eleitor é uma andorinha que se recusa a fazer sua parte, quer ir para outros ares e lavar as mãos em outras águas.
Há meses acompanhando a política em Petrolina, pude tirar mais uma máscara e vi uma outra realidade. Nem todos são vítimas, nem todos são culpados.
Há políticos hilários, dignos de pena. Há políticas infames, desprezíveis, verdadeiros mestres da retórica. Há os que choram e fazem rir. Há os que não olham no olho; por entender que estão sujos demais. Há os que aparecem de quatro em quatro anos trazendo carcaças de frango, há os que oferecem sopa e um pedaço de pão. Há os que trocam de partidos, um verdadeiro ping pong de infidelidades. Há os que compram seu voto por dez reais, por dez sacos de feijão.
Há os que voltam a prometer e a ler as mesmas propostas de outrora, subestimando ao povo, políticos amnésicos, criaturas vãs.
Encontrei de tudo um pouco. Eleitores corruptos tanto quanto alguns políticos. Eleitores viciados, miseráveis acomodados.
Há eleitores que esperam a hora do ‘cochicho ao pé do ouvido’, a hora do pedido tão desejado. Há os que começam contando a vida sofrida, a mãe doente, a filha grávida e por fim, chegam ao objetivo. “voto em você se você me der isso”. Quantos não vi fazendo isso...
Há os que são diretos, vão logo soltando o verbo, há os usam o nome de Deus, se Deus quiser, mas preciso de um incentivo...
Mas há também os eleitores apaixonados, os que ainda alimentam a esperança. Os que votam por amor a política, pela consciência política. Há os que admiram e vibram e abrem suas portas e servem água, café, cachaça, bode assado. Há os que abraçam tão forte que torcem o esqueleto do político, há os que apertam as mãos com os calos duros, enraizados na pele pelo trabalho árduo do sertão. Áridos corações que torcem pelo fim da indústria da fome, pelo fim da indústria da seca. Homens valentes, com pouco estudo, mas tão dignos. Mulheres com seus muitos filhos, catarrentos, com buchos crescidos que pedem somente que eles voltem e cumpram o que prometeram.
Algumas vezes senti a presença de Deus em casas de barro, onde famílias se escondem do sol, se protegem da chuva, mas sorriem felizes como se morassem em verdadeiros castelos.
Confesso que hoje sou meio ‘foca’ e meio profissional. Meu coração ainda ferve de indignação quando ouço de lábios vis a repetição do mesmo discurso demagogo de homens que apostam na regressão da humanidade, mas por outro lado meu coração salta de entusiasmo quando encontro pessoas humildes tão puras e honestas, tão humanas e cheias de esperança.
Confesso que mudei minha visão jornalista, agora deixo de ser pura e simplesmente cidadã e passo a ser observadora crítica jornalista. Deixei a revolta de lado, pude entender os dois lados. Amadureci a política que existia dentro de mim.
Meu voto não tem preço. E o seu?

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