quarta-feira, fevereiro 21


Pois bem, faz tempo que venho evitando, me esquivando, buscando jeito de adiar essa coisa de escrever, aqui a gente se despe de tal maneira que as veias pulsantes se abrem, se despem, se vêem livres como se a liberdade existisse. O duro é saber que tudo é fruto de devaneios que nos permitimos fazer para fugir do tédio que insiste em ser.
Na Veja de algumas semanas atrás li uma entrevista de Delfim neto onde de uma maneira prática, objetiva e sonora ele disparava: “é preciso sufocar a liberdade para combater a desigualdade”, e dizia mais “o velho Karl constatou que mesmo antes do surgimento do mercado que a liberdade e a igualdade são incompatíveis. Que o homem livre naturalmente produz a desigualdade.” Essas declarações me martelaram de lado-a-lado, sou aquela jornalista que ainda faz questionamentos metafísicos e que vai descamando dogmas em nome de princípios cósmicos. Sou aquela jornalista pouco comum que ainda vê saída, alternativa, oportunidade em fazer diferente, em se pôr diferente. Quando a gente analisa a situação política, econômica e principalmente social do nosso país, é que a gente consegue enxergar essa verdade quase absoluta dita por Karl Marx há século e por Delfim Neto há algumas semanas atrás. Será que o tempo passou? ou ainda estamos perdidos num túnel do tempo, obsoleto, arcaico, medieval?
E eu tenho que permanecer primeira pessoa. Tenho que vibrar, que desafinar, que esbravejar quando sentir vontade, quando achar que já deu, que a gota virou um oceano de hipocrisia; de jeitinho politiqueiro, quando eu achar que as gangues estão explícitas demais, que as quadrilhas já não se enxergam como vilãs, mas como mocinhos. A justiça nunca foi igual para todos, é cega sim, fecha os olhos da ética, da moralidade para beneficiar seus próprios interesses. O pior de tudo isso, é saber que estou apenas repetindo um velho discurso, que estou levantando uma bandeira rasgada, suja, esquecida. Nosso povo pacífico; dócil está anestesiado, está globalizado a ponto de achar que tudo pode ser, que tudo é possível, que não é com ele, nem com a família dele. E daí ? Que se dane, faço o melhor para defender o meu umbigo, o meu “de come” como se a comida que alimenta fosse apenas o arroz e feijão a preço de ouro, como se a reflexão tivesse sido banida, exilada, escondida em nome da comodidade. Quem não gosta de comodidade? Quem não prefere está à sombra que ao sol, gritando, reivindicando, socializando-se, buscando soluções. Em algumas conversas tidas com pessoas comuns, trabalhadores rurais, professoras de interior tenho ficado ainda mais pasma, embasbacada, a coisa está gigantesca, o ócio reflexivo dominou geral. Vazio como a música que não diz nada, que balança o esqueleto com frases secas de poesia e de emoção. Assim está a mente do povo brasileiro que se vê a margem, sempre a espera, sempre na fila de espera, que sempre assiste a reprise da vida real, em diversas fases da vida, pra nascer, pra sobreviver, pra morrer. O que muda? a idade, apenas a idade. E o que fazem? corrompem-se quando vêem oportunidade, se calam por medo, fraqueza, opção. Meu verbo ácido impera e dispara: AGIR. Ninguém age, ninguém reage. ninguém...
A verdade não é absoluta, para ser sincera a verdade realmente não existe, mas a mudança sim, é absoluta, somos mutantes, inconstantes, aprendizes.
O que me revolta é a ignorância por opção. Essa, de mim, tem o desprezo, à ojeriza, o vômito azedo de revolta. A solução para a vida, é pensar e realizar. realizemos, povo...
Pensemos...
O fazer ficou aos racionais, o obedecer, aos irracionais. Animais? Somos tantas vezes animais, grosseiros, estúpidos, corruptos...Somos tantas vezes jegues, jumentos, açoitamos a nossa racionalidade por interesses egocêntricos, defendemos a ilusão, a farsa, à vontade... É essa vontade, essa coisa de possuir, de desejar e fazer tudo pra obter aquilo que deseja, completamente tudo que nos faz sujos, profanos, evoluintes... Falta tanto... Falta muito, mas o que me anima é que podemos sim, metamorfosearmos, podemos sim, atingir o topo. QUERER... essa palavrinha, é bem vinda, e essa PODER, está tatuada na nossa memória acásica, podemos tudo e a explicação é alva: somos uno!
Mas há ainda aqueles que desejam ser fragmentos, vírgulas, átomos divididos; para elas ofereço veneno: aceita, veneno? Uma suave e mortal dose de veneno, em nome da evolução!

Tatiane Marta
09/02/2007

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